Formação de professores em língua e literatura: compartilhando experiências

Autores

João Wandemberg Gonçalves Maciel
Universidade Federal da Paraíba
Laurênia Souto Sales
Marineuma de Oliveira Costa Cavalcanti
Roseane Batista Feitosa Nicolau

Palavras-chave:

língua, literatura

Sinopse

Ancorada no dizer de Larrosa/Heidegger ao pensar o par experiência/sentido, para quem “[...] fazer uma experiência com algo significa que algo nos acontece, nos alcança; que se apodera de nós, que nos tomba e nos transforma”, apresentamos a série de textos que compõem o livro intitulado a Formação de Professores em Língua e Literatura: compartilhando experiências. E o autor continua sua reflexão acrescentando que “a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece”.

Larrosa evidencia que o sujeito da experiência expõe-se a uma travessia vista como algo desse fascinante que o conduz a um espaço indeterminado e perigoso, pondo-se nele à prova e buscando nele sua oportunidade, sua ocasião.

Esse lado perigoso da travessia tornou-se evidente em alguns capítulos a seguir resumidos, o que é possível perceber mediante o uso do item lexical “desafio”, na descrição do primeiro capítulo.

Há o cuidado de si para cuidar do outro (FOUCAULT) nesse processo de formação configurado no Programa de Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS), em que os professores em formação se lançam a utilizar o contexto de sua sala de aula, buscando a transformação do seu fazer pedagógico. Como sujeitos de experiência que podem ser transformados de um dia para o outro ou no transcurso do tempo (HEIDDEGER), encontra-se outro componente fundamental da experiência: sua capacidade de formação ou de transformação. “É experiência aquilo que ‘nos passa’, ou que nos toca, ou que nos acontece, e ao nos passar nos forma e nos transforma. Somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto à sua própria transformação” (LARROSA) .

São essas transformações e experiências exibidas por docentes e mestres/mestras do Profletras que iremos encontrar nos capítulos que sintetizaremos a seguir.

A coletânea está organizada em duas partes. Na primeira, com sete capítulos, dá-se ênfase às Práticas de ensino e usos da língua.

No capítulo Infografia como recurso de leitura multimodal nas aulas de língua portuguesa, Rosilene Sabino Furtado e João Wandemberg Gonçalves Maciel trazem a lume os desafios enfrentados pelos professores na tarefa de despertar nos alunos o interesse pela Leitura. Os autores evidenciam que procedimentos metodológicos até então adotados nas aulas de leitura não favorecem a formação de leitores proficientes, em especial para a leitura de gráficos, tão recorrentes no contexto atual. A pesquisa relatada objetivou estimular a leitura de textos infográficos, em que se reúnem o não verbal e o linguístico.

No texto Estratégias de leitura e suas contribuições para a construção de sentidos: uma proposta com o gênero tirinha no Ensino Fundamental, as autoras Aucilene Alves de Morais e Carla Alecsandra de Melo Bonifácio apresentam resultados derivados da pesquisa em que objetivaram ensinar aos alunos de uma escola da rede pública de João Pessoa estratégias de leitura com utilização do gênero tirinha.

Os autores Ulissivaldo Caetano Costa da Silva, Roseane Batista Feitosa Nicolau e Laurênia Souto Sales apresentam, no texto Uma experiência de escrita colaborativa a partir do modelo de jogo RPG Solo como ferramenta didático-pedagófica, resultados de uma pesquisa-ação realizada em uma sala de Educação Básica acerca do ensino de escrita criativa e colaborativa, mediada pelo modelo de jogo RPG Solo. A pesquisa tencionou conduzir os alunos à criatividade, à reflexividade e a criticidades na elaboração de seus textos. Os autores evidenciam no seu texto que o RPG Solo se revelou ser um modelo e uma ferramenta didática.

Em Produção do gênero abaixo-assinado como exercício de cidadania, Edna do Nascimento Calixto e Erivaldo Pereira do Nascimento abordam uma investigação intervencionista à produção escrita do gênero discursivo abaixo assinado. Alunos de 8º ano do Ensino Fundamental elaboraram o referido gênero voltado para um problema existente no contexto social da cidade em que moram. Os autores recortam, num universo de dez textos, a análise de uma produção textual dos alunos.

Em Gênero textual resumo: uma proposta de SD, Maria da Guia Pereira, Laurênia Souto Sales e Fernanda Barboza de Lima propuseram apresentar uma experiência de produção escrita com o gênero resumo realizada junto a alunos do segundo segmento da EJA, 9º ano do Ensino Fundamental, a partir do procedimento Sequência Didática, proposto por Dolz, Noverraz e Schneuwly.

O texto Práticas avaliativas a serviço da produção textual: uma experiência a partir da sequência didática, de Sônia Fortes Maciel e de Joseval do Reis Miranda, exibe resultados de uma pesquisa almejando compreender em que medida o processo avaliativo realizado pelo professor de Língua Portuguesa pode contribuir para o desenvolvimento da escrita de estudantes de uma turma de 8º ano do Ensino Fundamental ao trabalhar o gênero relato pessoal. Com esse propósito, os autores abordam a relação entre a produção de texto, sequência didática e a prática avaliativa a serviço das aprendizagens. Concluem que um perfil cooperativo de professor que respeita e oportuniza o crescimento do aluno gera reflexões que abrem caminho para as aprendizagens.

No capítulo A contribuição do estudo gramatical para compreender o texto Meme na sala de aula do Ensino Fundamental – anos finais, Manoel Fernandes da Silva e Sônia Maria Cândido da Silva expõem aos leitores a condução de uma atividade de ensino de Língua Portuguesa para uma turma de 8º Ano, com o objetivo de estudar: Língua, Leitura e Texto numa perspectiva sociointeracionista. Com esse propósito, o gênero Meme foi utilizado para subsidiar o ensino da compreensão leitora de um texto midiático.

A segunda parte, com seis capítulos, trata das Práticas de ensino e literatura.

No texto Leitura no Ensino Fundamental: uma experiência com “oficinas literárias temáticas” – um por todos e todos por um, Matilde Costa Fernandes de Souza, Vilson Pruzak dos Santos e Gilmei Francisco Fleck discutem o processo de formação do leitor literário no Ensino Fundamental, por meio de experiências desenvolvidas em “Oficinas literárias temáticas”, organizadas e aplicadas com base nos estudos de Zucki (2015); Rojo (2004); Martins (2012); Azevedo (2006), entre outros. Os autores ressaltam que o trabalho desenvolvido, a partir de uma temática geral significativa, trouxe resultados significativos, não só para o processo de ensino aprendizagem, mas também para a formação do leitor literário, visto que a literatura possibilita ações humanizadoras,  transforma olhares lineares do leitor e desperta sua sensibilidade em relação ao outro e ao mundo que o rodeia.

O texto Multiletramentos e ensino: retextualizando narrativas literárias por meio do software gachaverse, da autoria de Jôse Pessoa de Lima e de Marineuma de Oliveira Costa Cavalcanti, apresenta resultados de uma pesquisa intervencionista em que se objetivou o trabalho com práticas de letramentos de forma não apenas a dinamizar o processo de ensino-aprendizagem como também proporcionar a participação efetiva dos docentes na produção de narrativas literárias multimodais, por meio do software Gachaverse, dispositivo móvel compatível com sistemas operacionais android, iOS e iPad.

Seguindo uma orientação metodológica para atividades pautadas na sequência básica de Rildo Cosson, as autoras  Silvana Pereira Melo e Moama Lorena de Lacerda Marques abordam, no texto A interseccionalidade na poesia de Conceição Evaristo: uma proposta para o Ensino Fundamental – anos finais, o letramento literário e a educação no tratamento das relações de gênero e étnico-raciais.  O texto descreve uma proposta de intervenção com a poesia de Conceição Evaristo, buscando compreender as funções social e estética da literatura. Teoricamente para subsidiar o ensino da poesia, a proposta elaborada apoiou-se em Antônio Candido (1999) e em Helder Pinheiro (2018). Os estudos de Butler (2018) e de Akotirene (2019) abalizaram discussões acerca de gênero e interseccionalidade.

Na sequência, no texto sob o título A escrita afro-brasileira e sua contribuição para a formação do leitor literário na Educação Básica, as autoras Eliete Alves dos Santos e Luciane Alves Santos expõem uma experiência de pesquisa, no âmbito de uma proposta de letramento literário destinada aos anos finais do ensino fundamental em contos dos cadernos negros. A pesquisa objetivou a análise de conto de Cristiane Sobra, o “O buraco negro”, pertencente à obra Cadernos Negros: três décadas. A proposta de trabalho foi fundamentada teoricamente por Candido (2004), Santos (2001), Duarte (2008) e Fonseca (2006), além de documentos oficiais que legalizam o ensino da Literatura afro-brasileira como a Lei 10.639/2003 e a Base Nacional Comum Curricular. Metodologicamente, para a realização da leitura literária, as autoras selecionaram a sequência básica e os círculos de leitura, ambos propostos por Rildo Cosson (2014a; 2014b). Os resultados obtidos confirmam a importância da inclusão da Literatura afro-brasileira na escola não só como forma de ampliar a perspectiva dos leitores em formação, mas também para contribuir para discussões atinentes a conflitos gerados por atitudes discriminatórias.

Com o título Leituras íntimas, tessituras ignotas: uso e recepção do gênero aforismo no Ensino Fundamental, os autores Annecy Bezerra Venâncio e Hermano de França Rodrigues apresentam uma proposta metodológica que objetivou despertar o interesse pela leitura e a escrita literárias de alunos do 9º ano do Ensino Fundamental II de uma Escola Estadual de Goiana/PE. O gênero aforismo foi utilizado como proposta para um ensino significativo, a partir da exploração de temas que fazem parte da vivência desses alunos, como Amor e Morte. Com o entendimento de que a prática adotada se revela bem apropriada para formar e ampliar a capacidade crítica dos alunos, a pesquisa objetivou apresentar o aforismo como recurso textual importante para o desenvolvimento crítico social de alunos do ensino fundamental.

Em O cordel na sala de aula, sob a perspectiva da semiótica do discurso, Jaerly Dias Rolim de Lima e Maria Nazareth de Lima Arrais apresentam um recorte de uma pesquisa em que se objetivou analisar a aplicabilidade do cordel As quatro órfãs de Portugal ou o valor da honestidade, de João Melchíades da Silva, em eventos de leitura. A investigação se utilizou teoricamente da Semiótica do Discurso, tencionando encontrar subsídios para o tratamento da significação do texto em sala de aula da educação básica. De natureza etnográfica e abordagem qualitativa, a intervenção foi realizada em uma turma do 9º ano da Escola de Ensino Fundamental.

Convidamos a todos/as à leitura para conhecer como os autores/as compartilham como “O saber de experiência se dá na relação entre o conhecimento e a vida humana (LAROSSA).

 

Profa. Dra. Marluce Pereira da Silva

Profletras/UFPB e PPGEL/UFRN

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Publicado

September 9, 2020

Detalhes sobre o formato disponível para publicação: Livro

Livro

ISBN-13 (15)

978-85-237-1535-9